sexta-feira, 11 de julho de 2008

Na boquinha da garrafa


Foi na minha estréia nas Explosion Parties, numa noite Red Carpet (sem o tapete vermelho, mas com todo mundo elegante), que eu me lembrei do quanto eu fico indignada com algumas músicas brasileiras. O videokê foi o culpado. Em uma das rodadas musicais, depois de comer uma massa “DAQUI Ó” preparada pelo Cabeça (ex-colega de TV UFMG), selecionamos sem nenhuma pretensão uma certa música cuja letra era assim:


“No samba ela me diz que rala/ no samba eu já vi ela quebrar/ no samba ela gostou do rala-rala, me trocou pela garrafa, não ‘guentou’ e foi ralar/ vai ralando na boquinha da garrafa”


Foi uma gargalhada geral. Todos concordaram que essa letra era ridícula, não só pelos erros gramaticais (que nem percebemos na hora), mas pelo teor sexual da coisa. Claro que já havíamos notado isso antes, mas nessa hora, nós simplesmente paramos para refletir o absurdo que era falado na “maior inocência” há alguns anos.

Era com essa inocência que eu (e todas as minhas amigas) dançava na boquinha da garrafa, a dança do maxixe (“um homem no meio com duas mulheres fazendo sanduíche”), e até mesmo a do “pinto do meu pai que fugiu com a galinha da vizinha”.


Putz! Eu gostava da música do “põe-põe-põe me fazendo enlouquecer”! E sabia toda a coreografia da Melô do Tchan, que fala que “tudo que é perfeito a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima, mete em baixo”, e o pior: “depois de nove meses você o resultado”. Incrível como durante muito tempo eu nunca tinha reparado nas letras, e nem na coreografia das músicas. Mas o que devemos esperar de crianças que assistem o concurso da loira e da morena do Tchan no Faustão?


Hoje eu sinto um quê de vergonha em relembrar isso e até dou certa razão pelo meu pai nunca ter me deixado dançar na frente dele (era o que ele podia fazer para me poupar). Eu treinava os passos das danças na casa da vizinha, que tinha os CDs mais completos. Não era culpa nossa, a gente nem entendia o que era falado. O pior é lembrar o Gugu Liberato levando uma menininha de uns 5 anos vestida de Carla Pérez para dançar. Isso sim é exploração.


Mas não era só o Axé que fazia essas letras bizarras. Os venerados Mamonas Assassinas zombavam da cara dos axezeiros, roqueiros, pagodeiros, usando tudo muito sexual e ninguém dava a mínima pra isso (até hoje nem reparam). Não faz muito tempo que eu finalmente entendi o sentido de “comer tatu é bom, que pena que dá dor nas costas/ porque o bicho é baixinho e é por isso que eu prefiro as cabritas”. Caramba, essa demorou mesmo! E eu fiquei impressionada DE NOVO!


Quando meu namorado, Fábio, leu para mim algumas músicas de um CD dos Raimundos que ele costumava ouvir quando adolescente, eu só não caí pra trás porque estava deitada. Essas estavam para competir com todas as de axé e podiam até ganhar!


E mesmo assim eles eram chamados com todo carinho de “os meninos do Raimundos” pelas patricinhas da Capricho. Será que elas também nunca tinham reparado em como eles falavam da mulher, ou a venda é muito mais importante do que fazer as adolescentes pensarem que “dar fora” nos pretendentes não é a única forma de se respeitar? Eu nunca tinha ouvindo mais de uma música deles inteira, mas depois de perceber as letras das outras, fiquei aliviada por isso. Quem fala de nós como sendo quase prostitutas não merece minha audiência.


Infelizmente, hoje a situação não está muito diferente. O que mudou foi só o estilo musical. Agora são os funks que tomaram conta. "Vai Serginho" e aquele outro do "67, patinete, abre as perna e a gente..." são, para mim, os piores de todos os famosos (não estou nem falando daqueles funks “proibidos” que parecem narrar filmes pornôs).


Ao contrário de quando eu tinha 7 anos, eu não danço mais essas músicas. Não por não gostar de dançar, mas pro protesto. Até danço funk, mas se começa com letras desse tipo, eu paro, como se não estivesse ouvindo nada e não houvesse motivo para dançar. Escolha minha. Talvez pelos meus pensamentos cada vez mais feministas (que abominam essas manifestações que colocam a mulher em uma posição de objeto sexual), talvez pela minha preferência por músicas que me fazem pensar. E se não me fazem pensar, que pelo menos não me dêem vergonha. Acho que amadureci.

7 comentários:

  1. Lu, lembra do funk "comprei um fogão dako, porque dako é bom"?. O sentido é "porque dar o cu é bom". Eu, inocente, lerdo e desastrado como sou não entendi. Em plena roda de intelectuais na casa da minha madrinha eles falavam mal do funk e suas letras eu então disse "mas, não, não é bem assim há letras feministas que é até valorizam a cozinha, tem aquela 'comprei um fogão dako porque dako é bom'!". Minha madrinha disparou a rir e os intelectuais me olharam com uma cara que misturava nojo e piedade.
    Ah eu também já dancei o "e o tchan"! e muuito!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Independente do estilo musical de origem, não sei o que é pior, se essas letras de putaria ou os funks proibidões que idolatram o tráfico. Lembra de ontem, em festa da PARÓQUIA aqui de perto da sua casa? Além dos axés e funks pornográficos, teve a famosíssima "parápápápápápápápápápá..." e uma que eu nunca tinha ouvido e fez todo mundo levantar pra dançar - que tem uma melodia agradável, dá até vontade de dançar mesmo, mas fala coisas do tipo "bomba explode na cabeça, estraçalha ladrão", "Fita loca e cabulosa roda em seu redor, Os manos que atrasaram não chegaram co pó" (olha a descrição no vídeo da música no Youtube - "O mais novo talento do funk em Belo Horizonte e breve em todo Brasil!" - espero sinceramente que não). E só pra completar - lembra daquela música da garagem da vizinha?

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  4. pois é, foi até engraçado pensar nessas coisas na hora né, lu...
    mas se tiver rolando essas coisas em uma festa por exemplo, pode ter certeza q eu vou estar querendo estar em outro lugar eheh. não danço funk, não há nada q me faça.

    sobre esses axés malditos que costumavam habitar nossas telas nas tardes de domingo, se vc tem vergonha d ter dançado isso, imagina uma Sheila Mello da vida. Sim, pq eu acho q ela deve ter NO MÌNIMO uma noção d q q ela tava fazendo. e hj ainda qr ser reconhecida como atriz/modelo/cantora/apresentadora..
    deve ser triste pra essas mulheres...

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  5. Pois, é, eu concocordo com o Otávio e acho que é por isso que a a Carla Pérez virou evangélica! hehehe

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  6. Destaque para o macarrão "Daqui ó"...
    kkkkkkkkkkkkk

    Obs: Fico pensando...

    Será que nas festas de formatura de antigamente (10, 12 anos atrás), depois das "tradicionalidades" rolava um "piu-piu-ô" com as meninas tirando a sandália (e outras coisas) pra dançar??

    Curioso, não??

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  7. eu concordo plenamente com você !!

    concertesa essas musicas são deprimenteees !!
    e da é dó de quem não entendi o que ouve ! =/

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