sexta-feira, 25 de julho de 2008

Democracia? Onde?

Enquanto as notícias sobre a Operação Satiagraha minguam na mídia (dando lugar ao patriotismo patológico da aproximação das Olimpíadas), candidatos e poderosos que já ocupam os altos cargos do Governo, como o famoso Ministro do STF, Gilmar Mendes, reclamam e condenam a divulgação da lista dos candidatos com “ficha suja”, feita pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).
Para o digníssimo ministro, mostrar quem são os candidatos que respondem a processo judicial “remete à Ditadura Militar” e pode influenciar negativamente os eleitores, mesmo quando o candidato (coitadinho...) não foi condenado a nenhum crime, em nenhuma instância.

Por outro lado, o cidadão que for chamado para assumir cargo público, após aprovação em concurso, não pode ter ficha policial, nem dívidas sem pagar, nem o nome no SPC, nem o CPF irregular, nem serviço militar irregular. Curioso, não?

****
Poucas semanas antes, a mídia e os ricaços criticaram exaustivamente o uso das algemas e da espetacularização da cobertura midiática das prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas. Pra pobre niguém reivindica isso! Com pé-rapado é no chinelo e na algema! Ele não tem dinheiro para pagar advogado mesmo...

****
Já na história do menino João Roberto, morto por dois policiais cariocas em uma "perseguição", na qual os meganhas confundiram o carro da mãe do menino com o dos bandidos, só se falou na falta de preparo dos policiais ao atirarem sem saber quem estava dentro do carro. Ninguém da imprensa perguntou: e se fossem mesmo os bandidos dentro do carro? Os policiais estariam (seriam considerados) errados assim mesmo? A cobertura seria tão grande, com direito a levar a família das vítimas na Ana Maria Braga? Acho que não.

Ninguém se lembrou do caso em que o Sandro (Mancha), que sequestrou o ônibus 174 no Rio de Janeiro, foi assassinado por policiais dentro do camburão, sem julgamento nem nada. Em tempo: os acusados de matar o sequestrador foram absolvidos por júri popular. E assim prosseguiu a limpeza social velada e hipócrita. Direitos humanos? Que nada!

Os policiais estavam certos de matar essas pessoas, nas duas ocasiões? Não. E qual é a diferença entre eles, para que uns sejam inocentados e outros culpados? O simples fato de que os homens que mataram o menino João tiveram o "azar" (ou burrice mesmo) de terem confundido o carro com o dos bandidos, enquanto aqueles que sufocaram o sequestrador o tinham bem perto, debaixo de suas mãos e corpos, sem dúvidas do alvo.

Na hora de questionar a polícia por suas falhas, ninguém se lembra de que o pensamento da maioria - muito apoiado nas salas de cinema do filme Tropa de Elite - é de que bandido tem que morrer mesmo (bom mesmo é o BOPE). E que, no final, são eles que fazem o trabalho sujo de matar bandidos que "poluem a nossa sociedade". Se eles erram o alvo, que "vão para a fogueira"; se acertam, "não era mais que obrigação; fizeram justiça".

Mas afinal, quem são os bandidos? O pobre que roubou a bolsa da senhora, a polícia que mata sem pensar no direito à vida que todos temos, ou o rico que roubou do bolso de todos nós? Ou seriam todos? E quem é que julga o bandido? A polícia? Os engravatados de Brasília que só gostam de ver algemas nos caras de bermuda e chinelo? E por que criminosos não podem ser tratados igualmente, como bandidos que são, independentemente do peso da carteira de cada um?

Infelizmente, a cada dia que passa, vejo que a linha entre bandido e mocinho está cada vez mais tênue, principalmente quando se trata de condição social e financeira. É triste ver que, até quando a "Justiça" tenta fazer algo de bom para alertar os eleitores sobre as possíveis irregularidades e desonestidades daqueles que "representam" o povo, os graúdos (quase sempre com o rabo preso) jogam água fria e enchem a boca suja para falar "em nome da Democracia".

quarta-feira, 23 de julho de 2008

A placa e o Corvette


"Homens são como contas bancárias. Sem muito dinheiro eles não geram muito interesse". Essa é a tradução da frase escrita na plaquinha da foto, que eu tirei em março deste ano na cozinha da casa da minha ex-chefe nos EUA (onde passei 3 meses trabalhando no Taco Bell, restaurante fast food de comida mexicana).

Nascida na República Tcheca, ela desenvolveu uma mente bem liberal, mesmo sendo filha de um pai militar bastante rigoroso. As atitudes tiranas dela durante o serviço devem ter sido aprendidas com ele. Mas fora do trabalho, ela se mostrava bem, digamos, saliente... Gostava de falar sobre sexo, já mostrou os seios em um restaurante e tinha fotos prá lá de provocantes (para não dizer obcenas) na internet.

Mesmo assim, não tinha namorado, não tinha amantes regulares, não tinha amigos íntimos, não tinha um amor. Aliás, tinha, porém não correspondido. Um ex-namorado que se cansou do seu jeito peculiar e a deixou. Pelo menos, ela tinha um Corvette de ano 2007, de 35 mil dólares.

Mas o carro não falava, não beijava, não a abraçava enquanto dormia, não atendia o telefone e nem enviava mensagens românticas. Também não atraía outros interesseiros de olho no dinheiro fácil, carona fácil ou na possível "fucking friend" que ela poderia ser.

E a "sábia" plaquinha seguia intacta na cozinha da morena falsa que já foi loira de verdade. Talvez ela fosse a representação real do pensamento daquela mulher, que por isso seguia sozinha. Infelizmente, ou felizmente, não havia muitos Corvettes bobos na região, e as sensatas contas recheadas nos bancos pareciam não conhecer a Miss Taco Bell. As que conheciam, sabiam demais e perdiam o interesse.

É por isso que, ao contrário dela, eu não penduro plaquinhas na minha cozinha. Afinal, carteiras, contas bancárias e Corvettes não dizem "Eu te amo".

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Direito de resposta

Freud poderia até explicar essa! Depois do post no blog do meu namorado, Fabio, falando sobre minha reação quando vi a garotinha passando mal no supermercado, fiz novamente a reflexão e resolvi bater no peito e dizer "Mea Culpa! Sim, eu sou neurótica".

Depois de uma série de traumas que incluiam crianças vomitando ao meu lado dentro de carros, acho que a neurose piorou e segue até hoje com menos força, mas ainda o suficiente para eu sentir vontade de sair correndo a qualquer sinal de alguém "ficando verde" perto de mim.

Mas uma coisa me tranquiliza. Hoje eu penso com minha cabeça de 22 anos, não-casada, sem-filhos e um pouco mimada pelos pais que ainda moram comigo, mas daqui a alguns anos tudo pode ser diferente.

Sei que o amor muda tudo. Até o fato de eu pensar assim e ter verdadeiro pavor dessas coisas nojentas. Um dia, quando eu tiver meus pimpolhos e eles passarem mal, eu sei que vou limpar e levar numa boa. Sei também que por causa desse amor vou achar meus filhos lindos e não importa quem disser ou pensar o contrário.

A prova de que isso vai acontecer? Essa é fácil. Se não fosse o amor, meus pais não teriam me aguentado tanto tempo com problemas respiratórios e alguns raros problemas digestivos durante a infância (é, eu tenho estômago forte!). Não teriam aturado minhas crises adolescentes e nem mesmo as "adultas".

Se não fosse por esse sentimento, meu próprio namorado não teria me suportado também. Se não fosse o tal amor, eu não teria aprendido a amar cada pedacinho desse mesmo namorado, inclusive os defeitos e as manias, onde eu enxergo certa graciosidade.

Se isso já acontece agora, por que não aconteceria com os seres que eu vou gerar por nove meses no futuro? Acho que Freud explica essa também.


ps: mas acho que ainda prefiro trocar a fralda.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Na boquinha da garrafa


Foi na minha estréia nas Explosion Parties, numa noite Red Carpet (sem o tapete vermelho, mas com todo mundo elegante), que eu me lembrei do quanto eu fico indignada com algumas músicas brasileiras. O videokê foi o culpado. Em uma das rodadas musicais, depois de comer uma massa “DAQUI Ó” preparada pelo Cabeça (ex-colega de TV UFMG), selecionamos sem nenhuma pretensão uma certa música cuja letra era assim:


“No samba ela me diz que rala/ no samba eu já vi ela quebrar/ no samba ela gostou do rala-rala, me trocou pela garrafa, não ‘guentou’ e foi ralar/ vai ralando na boquinha da garrafa”


Foi uma gargalhada geral. Todos concordaram que essa letra era ridícula, não só pelos erros gramaticais (que nem percebemos na hora), mas pelo teor sexual da coisa. Claro que já havíamos notado isso antes, mas nessa hora, nós simplesmente paramos para refletir o absurdo que era falado na “maior inocência” há alguns anos.

Era com essa inocência que eu (e todas as minhas amigas) dançava na boquinha da garrafa, a dança do maxixe (“um homem no meio com duas mulheres fazendo sanduíche”), e até mesmo a do “pinto do meu pai que fugiu com a galinha da vizinha”.


Putz! Eu gostava da música do “põe-põe-põe me fazendo enlouquecer”! E sabia toda a coreografia da Melô do Tchan, que fala que “tudo que é perfeito a gente pega pelo braço, joga lá no meio, mete em cima, mete em baixo”, e o pior: “depois de nove meses você o resultado”. Incrível como durante muito tempo eu nunca tinha reparado nas letras, e nem na coreografia das músicas. Mas o que devemos esperar de crianças que assistem o concurso da loira e da morena do Tchan no Faustão?


Hoje eu sinto um quê de vergonha em relembrar isso e até dou certa razão pelo meu pai nunca ter me deixado dançar na frente dele (era o que ele podia fazer para me poupar). Eu treinava os passos das danças na casa da vizinha, que tinha os CDs mais completos. Não era culpa nossa, a gente nem entendia o que era falado. O pior é lembrar o Gugu Liberato levando uma menininha de uns 5 anos vestida de Carla Pérez para dançar. Isso sim é exploração.


Mas não era só o Axé que fazia essas letras bizarras. Os venerados Mamonas Assassinas zombavam da cara dos axezeiros, roqueiros, pagodeiros, usando tudo muito sexual e ninguém dava a mínima pra isso (até hoje nem reparam). Não faz muito tempo que eu finalmente entendi o sentido de “comer tatu é bom, que pena que dá dor nas costas/ porque o bicho é baixinho e é por isso que eu prefiro as cabritas”. Caramba, essa demorou mesmo! E eu fiquei impressionada DE NOVO!


Quando meu namorado, Fábio, leu para mim algumas músicas de um CD dos Raimundos que ele costumava ouvir quando adolescente, eu só não caí pra trás porque estava deitada. Essas estavam para competir com todas as de axé e podiam até ganhar!


E mesmo assim eles eram chamados com todo carinho de “os meninos do Raimundos” pelas patricinhas da Capricho. Será que elas também nunca tinham reparado em como eles falavam da mulher, ou a venda é muito mais importante do que fazer as adolescentes pensarem que “dar fora” nos pretendentes não é a única forma de se respeitar? Eu nunca tinha ouvindo mais de uma música deles inteira, mas depois de perceber as letras das outras, fiquei aliviada por isso. Quem fala de nós como sendo quase prostitutas não merece minha audiência.


Infelizmente, hoje a situação não está muito diferente. O que mudou foi só o estilo musical. Agora são os funks que tomaram conta. "Vai Serginho" e aquele outro do "67, patinete, abre as perna e a gente..." são, para mim, os piores de todos os famosos (não estou nem falando daqueles funks “proibidos” que parecem narrar filmes pornôs).


Ao contrário de quando eu tinha 7 anos, eu não danço mais essas músicas. Não por não gostar de dançar, mas pro protesto. Até danço funk, mas se começa com letras desse tipo, eu paro, como se não estivesse ouvindo nada e não houvesse motivo para dançar. Escolha minha. Talvez pelos meus pensamentos cada vez mais feministas (que abominam essas manifestações que colocam a mulher em uma posição de objeto sexual), talvez pela minha preferência por músicas que me fazem pensar. E se não me fazem pensar, que pelo menos não me dêem vergonha. Acho que amadureci.

sábado, 5 de julho de 2008

O guardanapo

O dente amanheceu doendo. Mastigar e falar era quase tortura. O famoso siso, que havia nascido pela metade anos antes, resolveu dar as caras assim, da noite pro dia. Foi como aquela idéia que vem do nada e lateja até decisão definitiva, mas com um incômodo físico e real. Foi como o pelinho que nasceu logo depois da depilação que custou 40 reais, como a espinha dos tempos adolescentes.
Até o amor é assim. Um belo dia, sem que a gente perceba de onde ele veio, a gente acorda e pensa naquela pessoa com uma ternura estranha, uma dorzinha no coração. É estranho pensar que aquilo já estava lá, mas sim, estava escondido sob a pele.

***
O dente continuou incomodando, e a dentista foi marcada às pressas.
“Vai ter que extrair! E não só o que está doendo, mas o outro também, senão pode prejudicar o resto da arcada”, sentenciou.
Já na cadeira em posição horizontal, as primeiras pontadas de anestesia foram dadas e os poros das mãos liberando um suor frio, que dois minutos atrás não parecia existir. Foi providencial o guardanapo que ela entregou à paciente pouco antes do processo começar.
No início pareceu despropositado, mas logo depois o inocente papel mostrou a quê veio. Na falta de uma mão amiga para segurar, o guardanapo foi o ponto de apoio, o que absorveu o suor, evitou as mordidas inesperadas e os solavancos.
Depois de vinte minutos de luta contra a raiz incrustada no osso e na gengiva, ele (o dente do juízo) cede, grande, cheio de sangue. A dor não veio, só a sensação de alívio. A anestesia fez efeito. Mas ela não jogou fora o guardanapo.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Por um chão mais limpo!


Eu detesto cigarro! Não só pela fumaça, pelo cheiro que fica na roupa e no cabelo e nem apenas pelas crises de dor de garganta e rinite que tenho quando eu fico perto de quem está fumando. Mas outro fator negativo entrou na minha lista anti-tabagista logo depois de eu perceber que os fumantes, não contentes em poluir o ar, também têm o costume de sujar o chão por onde passam.

Talvez lixeira e “bituca de cigarro” devam se repelir. Infelizmente, essa não é a explicação para que a maioria das “chaminés” jogue os restos mortais do fumo no chão, mesmo quando o cesto de lixo ou o cinzeiro estão ali ao lado. O mais impressionante é que eu já vi gente super inteligente e esclarecida cometendo essa gafe. Será que ninguém nunca parou pra pensar nesse detalhe?

É por isso que hoje eu lanço um movimento não só para acabar com o fumo, mas também para que quem não consegue largar o vício passe a ser mais educado e aprenda que ponta de cigarro também é lixo e que alguém (que certamente não é o fumante) vai ter que limpar essa sujeira desnecessária! E o pior: se ninguém limpar, aquele "pequeno" dejeto vai demorar 10 ANOS para se decompor!

A Organização Mundial de Saúde indica que mais ou menos 1,2 bilhões pessoas no mundo têm o hábito de fumar. E o Brasil está entre os 10 países com a maior população fumante. Nenhum orgulho disso! Imagina se cada um resolve jogar pelo menos uma bituca no chão por dia (tenho certeza que é bem mais do que essa quantidade). Haja pulmão e piso pra limpar, né?!

Todo mundo sabe que fumar é prejudicial à saúde, tanto de quem fuma, quanto de quem convive com essas pessoas. O que falta agora é a conscientização de que não só o ar e os pulmões dos outros devem ser respeitados, mas também a limpeza do chão e do ambiente.