
Por outro lado, o cidadão que for chamado para assumir cargo público, após aprovação em concurso, não pode ter ficha policial, nem dívidas sem pagar, nem o nome no SPC, nem o CPF irregular, nem serviço militar irregular. Curioso, não?
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Poucas semanas antes, a mídia e os ricaços criticaram exaustivamente o uso das algemas e da espetacularização da cobertura midiática das prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas. Pra pobre niguém reivindica isso! Com pé-rapado é no chinelo e na algema! Ele não tem dinheiro para pagar advogado mesmo...
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Já na história do menino João Roberto, morto por dois policiais cariocas em uma "perseguição", na qual os meganhas confundiram o carro da mãe do menino com o dos bandidos, só se falou na falta de preparo dos policiais ao atirarem sem saber quem estava dentro do carro. Ninguém da imprensa perguntou: e se fossem mesmo os bandidos dentro do carro? Os policiais estariam (seriam considerados) errados assim mesmo? A cobertura seria tão grande, com direito a levar a família das vítimas na Ana Maria Braga? Acho que não.
Ninguém se lembrou do caso em que o Sandro (Mancha), que sequestrou o ônibus 174 no Rio de Janeiro, foi assassinado por policiais dentro do camburão, sem julgamento nem nada. Em tempo: os acusados de matar o sequestrador foram absolvidos por júri popular. E assim prosseguiu a limpeza social velada e hipócrita. Direitos humanos? Que nada!
Os policiais estavam certos de matar essas pessoas, nas duas ocasiões? Não. E qual é a diferença entre eles, para que uns sejam inocentados e outros culpados? O simples fato de que os homens que mataram o menino João tiveram o "azar" (ou burrice mesmo) de terem confundido o carro com o dos bandidos, enquanto aqueles que sufocaram o sequestrador o tinham bem perto, debaixo de suas mãos e corpos, sem dúvidas do alvo.
Na hora de questionar a polícia por suas falhas, ninguém se lembra de que o pensamento da maioria - muito apoiado nas salas de cinema do filme Tropa de Elite - é de que bandido tem que morrer mesmo (bom mesmo é o BOPE). E que, no final, são eles que fazem o trabalho sujo de matar bandidos que "poluem a nossa sociedade". Se eles erram o alvo, que "vão para a fogueira"; se acertam, "não era mais que obrigação; fizeram justiça".
Mas afinal, quem são os bandidos? O pobre que roubou a bolsa da senhora, a polícia que mata sem pensar no direito à vida que todos temos, ou o rico que roubou do bolso de todos nós? Ou seriam todos? E quem é que julga o bandido? A polícia? Os engravatados de Brasília que só gostam de ver algemas nos caras de bermuda e chinelo? E por que criminosos não podem ser tratados igualmente, como bandidos que são, independentemente do peso da carteira de cada um?
Infelizmente, a cada dia que passa, vejo que a linha entre bandido e mocinho está cada vez mais tênue, principalmente quando se trata de condição social e financeira. É triste ver que, até quando a "Justiça" tenta fazer algo de bom para alertar os eleitores sobre as possíveis irregularidades e desonestidades daqueles que "representam" o povo, os graúdos (quase sempre com o rabo preso) jogam água fria e enchem a boca suja para falar "em nome da Democracia".